RESUMO
Danielle Bittencourt de Souza Castro. “Dinâmicas Psicoartísticas de Diagnóstico Intervencionista”.
O presente estudo descreve uma análise e diagnóstico intervencionista da psicologia como reflexão e aplicação de um programa de criatividade em Arteterapia como psicologia social familiar no processo de educação criativa.
O objetivo desta investigação é apresentar um trabalho profissional e social como CLÍNICA TERAPÊUTICA ARTÍSTICA CRIATIVA.
Finalmente, é desenvolvida uma metodologia de análise de casos em Arteterapia Clínica com o uso do modelo de entrevista justificada e das dinâmicas psicoartísticas de diagnostico intervencionista (terapia artística expressiva).
Palavras-chave: Criatividade, Processos de Criação, Arte, Psicologia Analítica, Arteterapia, Psicoterapia.
RESUMEN
Danielle Bittencourt de Souza Castro.“
Este trabajo presenta un análisis y diagnóstico de intervención de la psicología como reflexión y aplicación de la creatividad en la Arte-Terapia como psicología familiar en el proceso de educación creativa.
El objetivo de la presente investigación, es presentar e un trabajo profesional e social como CLÍNICA TERAPÉUTICA ARTÍSTICA CREATIVA.
Se finaliza con el desarrollo de una metodología de análisis de casos en Arte-Terapia Clínica utilizando el modelo de la entrevista justificada y las dinámicas psico-artísticas de diagnóstico intervencionista (terapia artística expresiva).
Palabras-claves: Creatividad, Procesos de Creación, Arte, Psicología Analítica, Arte-terapia, Psicoterapia.
ABSTRACT
Danielle Bittencourt de Souza Castro.”Diagnostic Interventional Psicoartísticas Dynamic”.
This study describes an Interventional Analysis and Diagnostic of Psychology as reflection, and application the Creativity in Art Therapy as family and social psychology in the creative education process.
The goal of this research is to introduce a professional and social job like CREATIVE ARTS CLINIC.
Finally, a case studies methodology is developed in Clinical Art Therapy using the justified interview model and the psycho-artistic dynamics of the interventional diagnostic (expressive art therapy).
Keywords: Creativity, Creation Processes, Art, Analytical Psychology, Art Therapy, Psychotherapy.
DINÂMICAS PSICOARTÍSTICAS DE DIAGNÓSTICO INTERVENCIONISTA
QUE? É uma dinâmica de diagnóstico que busca entender mais profundamente a problemática do cliente como um todo com o intuito de obter subsídios para intervenção no processo terapêutico. COMO? Este procedimento é feito através de uma sessão inicial estrutural com os pais, sem a presença da criança, para obter dados objetivos, como, composição e histórico familiar, situação de parto, histórico escolar e comportamento social, observar compreensão da proposta, construção da identidade, concentração, coordenação motora e espacial, fases do grafismo infantil; doze sessões individuais com o cliente, baseando-me em três tipos de ações: Ordem (Psico) Lógica. POR QUE? Pretende fazer uma análise do sujeito e compreender suas funções afetivo-cognitivas, dentro do seu contexto sócio-cultural e familiar. PARA QUE? Para conseguir uma avaliação diversificada que permita um diagnóstico intervencionista mais completo.
1O MOMENTO:
Uma a duas Sessões Iniciais estrutural com os pais, de 1hora 30 minutos.
2O MOMENTO:
Diagnóstico Intervencionista: de 12 a 15 sessões individuais com a criança de 50 minutos.
1. PINTURA E DESENHO – DO RABISCO AO DESENHO DE HISTÓRIAS. Pintura, Desenho do rabisco, Desenho livre, Recorte e colagem, Desenho emotivo automático de cenas e estórias da família, Desenho-estória por associação livre.
2. JOGOS. Teatro – Jogo Dramático, Representando Personagens (Casinha de bonecas), Hora do Jogo Diagnóstico, Os jogos como expressão do imaginário.
3. TRABALHO ESPACIAL CONSTRUTIVO LÚDICO. Argila do Deus
Criador, Construir cenários no tabuleiro de areia, Construção como jogo estruturante.
3O MOMENTO:
Visita à escola para obter dados de socialização e relação com o grupo.
4O MOMENTO:
Sessão com pais para devolução dos dados observados e prognóstico, de 1hora e 30 minutos.
DISCRIMINACÃO DAS SESSÕES:
1. PINTURA E DESENHO: DO RABISCO AO DESENHO DE HISTÓRIAS
1.1. PINTURA
A pintura é uma linguagem que tem como fundamento a utilização de massa de cor para construir a imagem.
Na pintura, enquanto ela flui, fluem também emoções e sentimentos mais abrangentes. A fluidez da tinta com a sua função liberadora induz o movimento de soltura, de expansão, trabalhando o relaxamento dos mecanismos defensivos de controle.
As cores quentes (amarelo, vermelho) ativas e dinâmicas aceleram o metabolismo, enquanto que as cores frias (verde, azul) com a característica balsâmica, acalmam, lentificam. (Valladares, 2004: 3)
Os materiais usados mais comuns são: guache, aquarela, anilina, óleo, acrílico e nanquim:
– A tinta guache exige maior controle de movimento, ela libera emoções e incentiva a imaginação.
– A aquarela, devido a sua beleza e o uso obrigatório da água, mobiliza com grande veemência a afetividade do indivíduo.
– A anilina é ótima para pessoas que tem medo de perder o controle das coisas, proporcionando a superação de limites.
– A tinta óleo, por demorar mais para secar, dá condições de equilíbrio da situação. É possibilitadora de controle. As imagens podem ser transformadas, revivenciadas, “corrigidas”. Permite a repintura, porém não
oferece resultados imediatos, exige paciência. Quando reaplicada requer um período de secagem para receber outra mão.
– O nanquim, quando puro, é de fácil controle, mas exige agilidade e sensibilidade. Quando usado com água, é mais fluida, exigindo muito mais habilidade, atenção e concentração.
– A pintura a dedo oferece o contato com as sensações. De um modo geral, quanto mais fluida a tinta, maior a mobilização dos afetos a emoções.
– A tinta acrílica em tubo é mais rígida e pastosa e de rápida secagem, tornando-a mais difícil de controlar, ou seja, seu resultado é imediato. Mas há uma possibilidade de torná-la um pouco mais fluida.
1.2. DESENHO DO RABISCO (Squiggle game) (WINNICOTT,2005)
É um método para estabelecer contato com seu cliente. Winnicott oferecia folhas de papel em branco, onde traçava rabiscos, convidando o paciente a ampliar ou a introduzir modificações neste rabisco. Juntos, teciam comentários a respeito das idéias que lhes fossem ocorrendo. Profissional e cliente comunicavam-se por meio de desenhos e dos comentários surgidos no decorrer de uma extensa conversação gráfico-verbal. A razão de jogo nos dá conhecimento da forma como nosso cliente gostaria de se comunicar. É um jogo sem regras, que facilita a interação.
O jogo do rabisco é uma técnica (apresentada como jogo) que facilita a comunicação de aspectos profundos do psiquismo e tem valor diagnóstico e terapêutico.
Não há regras, no jogo do rabisco, de sorte que as instruções são bastante simples, como diz Winnicott (2005a, p. 232):
Em um momento adequado, após a chegada do cliente […] digo à criança: “Vamos jogar alguma coisa. Sei o que gostaria de jogar e vou lhe mostrar”. Há uma mesa entre a criança e eu, com papel e dois lápis. Primeiro apanho um pouco de papel e rasgo as folhas ao meio, dando a impressão de que o que estamos fazendo não é freneticamente importante, e então começo a explicar. Digo: “Este jogo que gosto de jogar não tem regras. Pego apenas o meu lápis e faço assim” […] e, provavelmente, aperto os olhos e faço um rabisco às cegas. Prossigo com a explicação e digo: “Mostre-me se parece com alguma coisa a você ou se pode transformá-lo em algo; depois faça o mesmo comigo e
verei se posso fazer algo com o seu rabisco” (WINNICOTT, 2005.)
Uma sessão produz, em média, de vinte a trinta desenhos que, gradualmente, vão se tornando cada vez mais significativos, expressando, no seu conjunto, os conflitos, os medos e as angústias vividos pela criança. O jogo do rabisco é usado na primeira sessão, ou, no máximo, em duas ou três. Por sua flexibilidade, ele permite ao terapeuta utilizar os resultados de acordo com o conhecimento que tem da criança.
1.3. DESENHO LIVRE (MEREDIEU,1974)
É outra maneira de lidar com os sentimentos das crianças na terapia. A informação sobre sentimentos e comportamentos pode ser obtida dessa forma, e na relação com o cliente no decorrer da atividade, podem ficar claras as variáveis das quais seu comportamento é função.
Podemos avaliar e observar as funções psíquicas tais como, curso e conteúdo do pensamento, ideação, juízo, críticas, lógica, memória, orientação, consciência, atenção, afetividade, humor, atividade, inteligência, senso-percepção.
Guardar a imagem observada em sua totalidade e detalhes, percepção espacial, delimitar e designar, objetividade, delinear e configurar. É a expressão da personalidade.
O desenho é uma das grandes vias de comunicação. Através dele, a criança pode expressar sentimentos, desejos, medos e preocupações que, muitas vezes, em seu comportamento habitual, não é possível perceber. O desenho reflete a modo como a criança se vê, se percebe e as pessoas que o rodeiam.
1.4. RECORTE E COLAGEM (PHILIPPINI, 2009)
É importante observar em um trabalho de colagem a sua estruturação, integração, organização espacial, relação entre figuras, polaridades cromáticas (policromia e monocromia), sua posição e forma de ocupação no suporte, o modo como as imagens se movimentam e se relacionam entre si.
O recortar ou rasgar os papéis, subjetivamente, corresponde à vivencia de cortes, rupturas e reparação, enquanto a colagem favorece a organização de estruturas pela junção e articulação de formas prontas. Já a organização espacial é simbólica e reparadora. Favorece o desenvolvimento da coordenação motora fina.
Algumas observações sobre a distribuição das imagens num suporte de papel:
• Trabalhos colocados na direita: Coisas que já vieram para a consciência.
• Trabalhos colocados na esquerda: Coisas que estão vindo para a consciência.
• Suporte bem ocupado: O que é isto? Tenho muitos assuntos e será que consigo executar todos?
• Suporte pouco ocupado: As imagens estão soltas? O que falta para interligá-las? Será que falta algo?
• Relação de tamanho das imagens entre si:
– Se a imagem é pequena demais: Tem algo a resolver.
– Se uma imagem é maior do que as outras: Mais carga e informação emocional forte.
• Relação da cor e não cor:
– Uma imagem preto e branco no meio das coloridas: São questões mais difíceis de serem elaboradas, que estão ocultas.
-Imagens de cabeça para baixo ou em movimento contrário às outras: Ir na contramão.
1.5. DESENHO
1.5.1. DESENHO EMOTIVO AUTOMÁTICO DE CENAS E ESTÓRIAS DA FAMÍLIA (CUNHA, 2000)
Tem por finalidade descrever e especificar para cada cliente os conteúdos evocados quanto às suas “imagens familiares”. Observa-se a composição da família, a ordem de aparecimento dos personagens, a estatura destes, a ausência de um personagem, os comentários que aparecem e relações estabelecidas. O desenho da família ensina-nos mais sobre a existência dos conflitos do que sobre sua natureza.
É importante propor que, após a representação da família, se introduza um inquérito, para que o sujeito indique, dentre os diferentes membros, qual é considerando o mais e menos importante para ele, o mais feliz e o infeliz, qual o seu preferido, quais suas identificações.
Esta atividade revela conflitos da criança, a percepção que ela tem de seus familiares, bem como seus sentimentos e atitudes em relação aos diferentes membros.
Outra relação a considerar é a proximidade e afastamento das figuras e distância emocional entre as pessoas desenhadas. Também é importante observar a expressão facial de cada figura, que pode representar um ar afetuoso, bondoso ou, pelo contrário, agressivo ou proibitivo.
No nível gráfico, leva-se em conta a amplitude, a força e o ritmo do traçado, a localização na página e o movimento do traçado.
1.5. 2. DESENHO – ESTÓRIAS POR ASSOCIAÇÃO LIVRE (TRINCA, 1987)
O Procedimento de Desenhos-Estórias (D-E) é uma técnica não estruturada, baseada no método da associação livre, que dá liberdade à criança para criar e associar. É um procedimento clínico de investigação diagnóstica, o qual emprega recursos das técnicas gráficas e temáticas, a fim de construir uma nova abordagem da vida psíquica.
O Procedimento de Desenhos-Estórias possibilita investigar aspectos fundamentais do funcionamento mental do paciente, ou seja, suas fantasias e ansiedades básicas, pontos de regressão e fixação, recursos defensivos, capacidade elaborativa do ego, tipo de relações objetais, etc., para a obtenção de uma visão dinâmica da personalidade.
A criança realiza um desenho livre, na qual servirá de estímulo para que conte uma estória associada livremente logo após a realização do desenho. O terapeuta pode estimular fazendo um inquérito que tem como objetivo a obtenção de novas associações a respeito do material. Depois ele dá um título para sua estória. Será observada a verbalização do sujeito enquanto desenha a estória, ordem de realização das figuras desenhadas, recursos utilizados pelo cliente, reações expressivas, associações feitas.
Um aspecto importante é o conteúdo do desenho, pois trata das experiências da própria subjetividade do cliente, objetos internos, fantasias inconscientes, angústias e ansiedades, impulsos e tendências, necessidades e desejos, sentimentos, atitudes, conflitos, figuras significativas na vida do cliente, processos de interiorização, mecanismos de defesa, relações com o meio social, valorização de aspectos de sua vida e de sua história de vida.
2- JOGOS
2.1. TEATRO: JOGO DRAMÁTICO REPRESENTANDO PERSONAGENS
(CASINHA DE BONECAS)
Falar dos personagens de uma história é possibilitar a criança a vivenciar e se aproximar gradualmente de seus processos psíquicos, para depois falar de si mesmo. Ao analisar o comportamento dos personagens, ensina-se à criança a fazer análise funcional do comportamento e posteriormente analisar seu próprio comportamento. Ao fazer a ponte da fantasia com a realidade, quando a criança é levada a identificar os padrões de comportamento dos personagens da história, que têm relação com seus padrões de comportamento e de seus familiares, a criança está sendo conduzida a falar de si e de suas relações.
“As crianças formam estruturas mentais pelo uso de instrumentos e sinais. A brincadeira, a criação de situações imaginárias, surge da tensão do individuo e da sociedade. O lúdico liberta a criança das amarras da realidade” VIGOTSKY (1989, p.84).
2.2. A HORA DO JOGO DIAGNÓSTICO (EFRON, 1981)
Esse procedimento tem como base o brincar livre e espontâneo da criança.. Oferece a possibilidade de a criança se estruturar, por meio dos brinquedos, a representação de seus conflitos básicos, suas principais defesas e fantasias, permitindo, dessa forma, o aparecimento de uma perspectiva ampla a respeito do seu funcionamento mental. Ao brincar, a criança desloca para o exterior seus medos, angústias e problemas internos, dominando-os
desse modo. Todas as situações excessivas para seu ego débil são repetidas no jogo, o que permite à criança um maior domínio sobre os objetos externos, tornando ativo o que sofreu passivamente.
O valor do jogo e do brincar são formas de expressão de conflitos e desejos. Ao jogar a criança não busca só o prazer, mas também joga para repetir situações dolorosas, elaborando suas fantasias, desejos e experiências, de forma simbólica.
É importante observar como a criança dá início à estruturação do seu brincar, qual a sequência dos jogos, brinquedos preferidos, comentários verbais. A primeira ação que ela realiza, na hora do jogo, e o tempo que transcorre até seu início denotam sua atitude perante o mundo.
Leva-se em conta os aspectos evolutivos (desenvolvimento da criança, segundo a idade), desenvolvimento emocional, inibição/sociabilidade, bem como os conteúdos inconscientes expressos nos jogos – defesas, fantasias, ansiedades, agressividade e a capacidade adaptativa, criativa e simbólica da criança.
2.3. OS JOGOS COMO EXPRESSÃO DO IMAGINÁRIO (CUNHA,1994)
Ao jogar, a criança libera suas energias e emoções, explora regras, busca compreensão e adaptação ao meio. Alem disso, elabora raciocínio e melhora a comunicação. Quando joga, a criança mostra toda sua espontaneidade e não sabe esconder nenhum dos sentimentos que a impulsionam.
O jogar é uma ótima expressão plástica da vida de fantasia e do desenvolvimento psicológico da criança.
Tanto a criança como o adulto, durante o jogo, vivem experiências que irão ajudá-los no amadurecimento e na aprendizagem de uma convivência enriquecedora.
“Brincando, a criança desenvolve seu senso de companheirismo; jogando com companheiros, aprende a conviver, ganhando e perdendo, procurando entender regras e conseguir uma participação satisfatória” (CUNHA, 1994, p.10).
O jogo contem normas e regras. Todos que participam tem as mesmas oportunidades. A criança, ao jogar, aprende a aceitar regras, pois o desafio está em saber respeitá-las. Saber esperar é um ótimo exercício para lidar com as frustrações e, ao mesmo tempo, elevar o nível de motivação e socialização. Dele, surgem comportamentos referentes aos aspectos cognitivos e/ou emocionais. Mostram também ansiedade, ausência de limites, dependência, descrença a auto-capacidade de realização, coordenação motora, organização espacial, lateralidade, atenção, concentração, antecipação e estratégia, discriminação, raciocínio lógico, criatividade, conhecimento do jogo em si, nível de comunicação etc.
“Todo jogo persegue um objetivo. Trata-se de construir, por meio de uma atividade particular, um esquema que permita operar sobre a realidade. Sua missão não se esgota numa liberação de desejos ocultos ou reprimidos, mas aponta para um novo planejamento da realidade. Por isso, é uma das formas mais eficientes de aprendizagem” (PICHÓN,1998:115) .
“Traduz uma atitude psicológica, ligada à imaginação criadora, já que põe constantemente à prova nossas aptidões para a invenção, para a resposta imediata em face das mais inesperadas mudanças de situação e instrumenta nossa capacidade estratégica” (PICHÓN,1998:115).
3. TRABALHO ESPACIAL CONSTRUTIVO LÚDICO
3.1. ARGILA DO DEUS CRIADOR
Material natural muito flexível e maleável, em caso de erro pode ser remodelado e transformado no que for preciso. Por sua fluidez, torna-se um rico material para um trabalho no contexto terapêutico.
“A sensação de estar em contato com o barro pode ser extremamente gratificante” e acredita que, “metaforicamente, pode-se viver “tudo” apenas mexendo nela, pois a argila age como transformadora, de um estado de desencontro para um estado de equilíbrio” (ALLESSANDRINI,1996: 93-94).
Oaklander (1980) expõe a aplicabilidade da argila no processo terapêutico:
A flexibilidade e maleabilidade da argila adaptam-na às necessidades mais variadas. Consideremos suas qualidades: ela é maravilhosa porque é mole, macia, sensual e faz sujeira, sendo atraente para qualquer idade. Promove a manifestação ativa de um dos processos internos mais primários. Proporciona a oportunidade de fluidez entre
material e manipulador como nenhum outro. É fácil tornar-se uno com a argila. Ela oferece tanto experiência tátil quanto cinestésica (OAKLANDER, 1980).
Pessoas muito distanciadas do contato com seus sentimentos e que continuamente bloqueiam sua expressão, geralmente estão fora de contato com seus sentidos. A qualidade sensual da argila muitas vezes oferece a essas pessoas uma ponte entre seus sentidos e seus sentimentos.
Aqueles que estão inseguros e temerosos podem ter uma sensação de controle e domínio através da argila (OAKLANDER, 1980:85).
A atividade com argila é liberadora de tensão, mas também de conteúdos simbólicos internos. Ela é relaxante, mas para quem não tem uma boa relação com suas sensações, pode ser perturbadora ao trazer à tona imagens e lembranças há muito tempo adormecidas.
O fazer regular da modelagem gera uma maior consciência espacial, desenvolve a coordenação motora e ativa a agilidade e flexibilidade manual.
3.2. CONSTRUIR CENÁRIOS NO TABULEIRO DE AREIA (WEINRIB,1993)
É um método terapêutico desenvolvido por Kalff, caracterizado pelo uso da areia, água e miniaturas, na criação de imagens dentro de uma caixa de areia.
É um método projetivo que prescinde do verbal. Sua prática consiste em construir cenários em uma caixa de areia, seca ou úmida, da forma que desejar, moldando a areia ou utilizando miniaturas. As cenas simbolizam o estado psíquico. É um contínuo diálogo entre aspectos conscientes e inconscientes da psique do cliente, o qual ativa o processo de cura e o desenvolvimento da personalidade.
Durante o processo psicoterapêutico com o Sandplay – Jogo de areia, observamos que as partes desconhecidas e não aceitas do indivíduo são vistas objetivamente e reconhecidas como pertencendo a ele.
A caixa e o setting terapêutico tornam-se a área limítrofe onde os opostos podem se confrontar e onde os conflitos podem ser resolvidos antes de serem levados para o mundo real. O trabalho na caixa de areia pode permitir
a expressão de conteúdos inconscientes, de modo a que eles não mais busquem se manifestar de forma literal em nossas vidas.
3.3. CONSTRUÇÃO COMO JOGO ESTRUTURANTE
Significa edificar, estruturar, organizar, elaborar. O montar, desmontar e equilibrar promovem a percepção e o despertar de valores, como noções de peso, tamanho, forma, posição e espaço.
Quando a criança joga, percebe, examina e assimila as regras embutidas nos atos sociais experimentando vários papéis. Ela elabora, re-elabora, constrói/reconstrói regras de conduta, re-significa os papéis que anteriormente não foram bem elaborados em sua psique e desenvolve valores mais saudáveis que orientarão seu comportamento.
No jogar a criança mostra sua marca, mostra sua relação com o social. O jogar ajuda a criança a se fortalecer para poder distinguir entre a fantasia e a realidade.
“As brincadeiras de faz-de-conta, os jogos de construção e aqueles que possuem regras, como os jogos de sociedade (também chamados de jogos de tabuleiro), jogos tradicionais, didáticos, corporais, etc., propiciam a ampliação dos conhecimentos da criança por meio da atividade lúdica”. (MEC/SEF,l998, v1. p.28).
4. CONCLUSÃO VALORATIVA
As técnicas psicodinâmicas aplicadas na prática arteterapêutica dão subsídios ao terapeuta para uma avaliação prognóstica, facilitando a amplificação no encaminhamento do percurso terapêutico do cliente.
A avaliação evolutiva das técnicas trabalhadas com o cliente permite a possibilidade de se fazer uma comparação entre os conteúdos manifestos e os conteúdos latentes percebidos, o que enriquece muito o processo terapêutico.
Estas técnicas permitem ao cliente sair do plano racional para o plano emocional, trazendo conteúdos inconscientes para a consciência. Tal ocorre em virtude do fazer expressivo que estas atividades proporcionam, pois o cliente não consegue se esconder do mergulho que dá ao se envolver com os materiais que são oferecidos e a verdadeira essência do seu Ser surge através dos seus trabalhos.
O terapeuta, durante a aplicação destas técnicas, percebe claramente a forma do cliente se colocar no mundo e de lidar com o social. Se existir uma patologia, esta vai ser identificada no desenrolar das atividades apresentadas.
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