Durante todo meu processo de estudos de Jung, de pesquisas e leituras do autor e autores afins, busquei juntar conteúdos que mostrassem como Jung vê o funcionamento e a dinâmica entre Consciente e Inconsciente, como eles se relacionam, de que forma se dá esta manifestação, este fluir de conteúdos e mostrar o quanto nosso Inconsciente é Criativo. Um Inconsciente abrangente reservatório do EU. Dr. Prado diz em seus textos que: “eu suponho que meu inconsciente é 90% do universo de meu eu perceptivo, vivido e ensaiado, previsto e imprevisto, voluntário e condicionado. Nele está toda minha riqueza vital e inexplorada”.
E de que forma todos estes conteúdos vem à tona? Uma das maneiras que nós Arteterapeutas entendemos ser a mais saudável é através da expressão da Arte.
A consciência por si, não explica tudo, já que os atos conscientes muitas vezes são ininteligíveis – “faço e não sei por que fiz”.
Fazer equivaler o psíquico, não dá para reduzir o psíquico à consciência, não é possível.
Buscaremos primeiro compreender a definição do Eu segundo Jung:
“Chamo consciência à referência dos conteúdos psíquicos ao EU, na medida em que for entendida pelo Eu como tal. As referências ao Eu, desde que não sejam percebidas pelo Eu como tal, são inconscientes. A consciência é a função ou atividade que mantém a relação entre conteúdos psíquicos e o Eu”. (JUNG, 1967).
Portanto, o Eu para Jung é visto como sendo um centro de consciência constituído de um aglomerado de representações chamado de Complexos do Eu, como se fossem nós de energia situados na consciência. Ele diz também que o Complexo do Eu é tanto um conteúdo da consciência como uma condição da consciência e que este Eu simplesmente não passa de um complexo entre outros tantos complexos. (JUNG, 1967).
Nise da Silveira, que foi uma grande seguidora dos pensamentos de Jung, define o conceito de Consciência como sendo o EGO, o centro da consciência, e lá, se desenrolam todas as relações entre os conteúdos psíquicos e o Eu, e para
qualquer conteúdo tornar-se consciente, ele tem que se relacionar com o ego. Os que não conseguem por algum motivo vão para o inconsciente. (SILVEIRA, 1997).
Enumerando os conceitos junguianos além do Complexo do Ego, que explicitam o consciente, temos o inconsciente pessoal (complexos) e o coletivo (arquétipos). Jung define inconsciente como: “Um conceito exclusivamente psicológico, no qual estão abrangidos todos os conteúdos ou processos psíquicos que não são conscientes, quer dizer, que não estão referidos ao EU de um modo perceptível”. (JUNG, 1967).
Jung denomina “complexo” como o conteúdo inconsciente responsável pelas perturbações da consciência e “Inconsciente coletivo” à camada mais profunda da psique humana, concebendo seu conteúdo como uma combinação de padrões e forças universalmente predominantes chamadas “arquétipos” e “instintos”- dons que a natureza concede a cada um de nós, de modo igualitário e universal.
Quais são os diversos modos pelos quais se ligam os conteúdos conscientes e inconscientes da nossa mente?
Os atos conscientes muitas vezes são ininteligíveis: faço algo e não sei por que estou fazendo. É necessário equivaler o psíquico, pois tudo que comporta a mente não pode estar somente na consciência. Seria reduzir o psiquismo.
Sabemos que, quando “algo” escapa de nossa consciência, este “algo” não deixou de existir, apenas o perdemos de vista. Normalmente são conteúdos emocionais muito fortes, que não conseguem vir para a consciência por serem conteúdos muito conflituosos. Portanto, parte do inconsciente consiste de uma profusão de pensamentos, imagens e impressões ocultas que, apesar de não parecer, continuam a influenciar nossas mentes conscientes.
Jung fala que a consciência só consegue iluminar algumas imagens de cada vez, mas elas estão lá, latentes, ou talvez adormecidas, guardadas no inconsciente, prontas para vir à tona a qualquer momento.
Os processos inconscientes, por si mesmo, não são percebidos, somente o são através das formações do inconsciente. É como se existisse uma barreira acústica. Conteúdos que diferem dos discursos morais, sociais e da cultura que o sujeito está imerso são rejeitados, mas não desaparecem, eles vão para o inconsciente, ficam lá guardados e podem demorar dias, meses ou anos para fazerem seu retorno. Os que não são rejeitados, os que conseguimos suportar, vão para a consciência.
Refiro-me aqui a coisas que ouvimos e vimos conscientemente e que, a seguir, esquecemos. Mas todos nós vemos, ouvimos, cheiramos e provamos muitas coisas sem notá-las na ocasião, ou porque nossa atenção se desviou ou porque, para os nossos sentidos, o estímulo foi demasiadamente fraco para deixar impressão consciente. O inconsciente, no entanto, tomou nota de tudo, e estas percepções sensoriais subliminares ocupam importante lugar no nosso cotidiano. Sem o percebermos, influenciam na maneira pela qual vamos reagir às pessoas e fatos. (JUNG, 1964:34).
Descobrir o inconsciente nos torna pessoas “ricas”. Descobrir que temos um banco de dados com conteúdos belíssimos de nosso passado que, somados com idéias presentes, formarão pensamentos inteiramente novos e criativos.
O inconsciente é acessado, ou melhor, as formações do inconsciente se dão através de vias individuais e vias coletivas que se manifestam através de conceitos chaves da psicologia analítica de Carl Gustav Jung, que formam a estrutura da Psique:
1- Ego – termo técnico cuja origem é a palavra latina que significa “EU’’.
Consciência – é a percepção de nossos próprios sentimentos e no seu centro existe um “EU”.
Entendemos por Ego aquele fator complexo com o qual todos os conteúdos conscientes se relacionam. É este fator que, por assim dizer, constitui o centro do campo da Consciência e, dado que este campo inclui também a personalidade empírica, o Ego é o sujeito de todos os atos conscientes da pessoa e se refere à experiência que a pessoa tem de si mesma como um centro de vontade, desejo, reflexão e ação (Jung – Vol. IX).
O Ego é o centro de energia que movimenta os conteúdos da Consciência e os organiza por ordem de prioridade. Focaliza a consciência humana e confere à nossa conduta consciente sua determinação e direção. Possui liberdade para fazer escolhas, que podem desafiar os nossos instintos de autopreservação, propagação e criatividade.
Como centro virtual da Consciência, o Ego é inato, mas como centro real e efetivo, deve sua estatura aquelas colisões entre o corpo psicofísico e um meio ambiente que exige resposta e adaptação. Uma quantidade moderada de conflito com o meio
ambiente e certa dose de frustração são, portanto, as melhores condições para o crescimento do Ego.
2- Complexo – um sistema próprio interno, formado por experiências decorrentes de um afeto (com emoção) vinculado à idéia, isto é, energia psíquica vinculada a uma experiência.
Os Complexos são, portanto, grupamentos de representação da psique (de imagens) cimentados por emoções e podem ser conscientes, inconscientes, semiconscientes, criativos ou patogênicos.
Os Complexos são o que permanece na psique depois que ela digeriu a experiência e a reconstituiu em objetos internos.
Como se formam os Complexos? A resposta usual é por trauma. Mas a questão deve ser situada num contexto social mais amplo. Nos estudos de Jung, através das associações de palavras, foram comprovados indícios de padrões de Complexos entre membros da família, influências sociais e culturais.
Os Complexos são capazes de irromper súbita e espontaneamente na consciência e se apossarem do Ego. Existe, com frequência, um sutil estímulo disparador que pode ser detectado através de uma depressão neurótica, algo de um passado recente. Quando o Ego é possuído, ele assume o Complexo e o resultado é o acting out (passagem ao ato) – pessoa que converte em ação seus impulsos reprimidos – isto é, a pessoa, simplesmente, tem vontade de fazer, de concretizar seus comportamentos.
3- Arquétipos ou Inconsciente coletivo – a camada mais profunda da psique humana. Princípio que organiza as idéias à realidade psíquica, seus padrões específicos e suas formas habituais, padrões universais, típicos, regulares e repetidos. São os conteúdos arcaicos ou primordiais do Inconsciente Coletivo, isto é, imagens universais que existiram nos tempos mais remotos, conteúdos psíquicos que ainda não foram submetidos a nenhuma elaboração consciente. Sua manifestação imediata pode ser através de sonhos, visões, mitos, contos de fadas, etc..
4- Persona – palavra grega – representa originalmente a máscara usada pelos atores para indicar o papel que eles representam.
Como máscara, o arquétipo da Persona diz respeito principalmente ao que é esperado socialmente de uma pessoa e à maneira como ela acredita que deva parecer ser. Trata-se de um compromisso entre o indivíduo e a sociedade.
Funcionando como uma roupagem do Ego, a Persona tem a importante função de anunciar aos outros, como tal pessoa deseja ser vista.
Não somos “personalidades múltiplas”, mas todos nós manifestamos “traços de divisão de caráter”.
Jung entende que as pessoas assumem atitudes específicas em determinados ambientes específicos.
A Persona, que é a pele psíquica entre o Ego e o mundo é, não só o produto de interação entre os objetos, mas inclui também as projeções do indivíduo nesses objetos. Adaptamo-nos ao que percebemos serem as outras pessoas e ao que querem.
5- Sombra – são aqueles conteúdos privados da luz da consciência. Estes conteúdos, um dia já pertenceram à Consciência e, com isso, o Ego sente inconscientemente que está em débito com os tais aspectos que foram negligenciados. O que a Consciência do Ego rejeita, torna-se Sombra, é um fator psíquico que o Ego não consegue controlar. É um Complexo funcional complementar, é uma espécie de contra-pessoa.
O Ego usa a Sombra, involuntariamente, para executar operações intencionais, voluntárias e defensivas dele mesmo. Podemos dizer que a Sombra é imoral.
Temos a tendência a esconder de nossa consciência e dos outros tudo o que é demoníaco em nós mesmos: sentimentos de poder, idéias cruéis e assassinas, impulsos asquerosos e ações moralmente condenáveis. Escondemos aquilo que a cultura considera feio e desadaptado, nossas fraquezas e sentimentos de frustração como a inveja, a cobiça, a ambição, o ciúmes, a solidão, etc.. Escondemos também a dor de conviver com estes sentimentos.
O encontro com a Sombra é uma das passagens essenciais na análise junguiana, pois, por meio dela, é que os Complexos poderão ser integrados, as projeções retiradas e a energia necessária para o desenvolvimento do Ego restituída. É nela que se encontram as ferramentas e os tesouros necessários ao desenvolvimento de nossa personalidade. Ao ser confrontada, a Sombra diminui seu poder e seu
tamanho e pode se tornar positiva, um aliado, possibilitando-nos a aprender com os erros.
6- Anima e Animus – são figuras arquetípicas da psique. De um lado pertencem à personalidade e, de outro, estão enraizadas no inconsciente coletivo, construindo uma ponte entre o consciente e o inconsciente, possibilitando uma relação dialética entre ambos.
O caráter de Animus/Anima não é determinado apenas pela respectiva estruturação no sexo oposto, mas ainda pelas experiências que cada um traz em si do trato com indivíduos do sexo oposto ao longo de sua vida e através da imagem coletiva que o homem tem da mulher e a mulher do homem.
Além de estabelecer essa ponte com nossas raízes históricas, são arquétipos envolvidos no relacionamento com o sexo oposto e funcionam na relação afetiva com o mundo exterior. Juntos representam os arquétipos da união ou coniunctio conjugal.
7- Os arquétipos do Puer e Senex – possuem como referência as figuras do jovem e do velho, mas não necessariamente estão vinculados à idade jovem ou avançada.
Ao descrever a psicologia do arquétipo da criança – Puer, Jung se refere às condições infantis que foram esquecidas ou abandonadas, quer por recalque quer por outros meios, tanto da infância individual quanto da infância da humanidade. A criança nos faz lembrar que estamos deixando de lado conteúdos importantes para o funcionamento psíquico como um todo.
Quanto ao Senex, o trabalho de Jung menciona o arquétipo do velho-sábio ou personalidade-mana (sabedoria superior).
O homossexualismo e o dom-juanismo são comportamentos comuns do Puer. No primeiro caso, a mulher é evitada por ele ter uma relação de fidelidade com a mãe, levando-o a escolher o sexo oposto como objeto de amor para não traí-la. No segundo caso, o Puer busca a mulher perfeita, aquela que estaria à altura de substituir sua venerada mãe. Ao se frustrar por descobrir que a mulher não é a mulher que ele procura, abandona-a e parte para uma nova conquista e assim, sucessivamente, em busca da mulher perfeita, pois nenhuma mulher é capaz de satisfazê-lo.
A Consciência do Ego possui a capacidade de viver o Puer-et-Senex e favorecer-se de suas trocas criativas; mas possui também a possibilidade de cindi-los e se identificar com um deles, criando uma confrontação patológica entre eles.
Os dinamismos de irresponsabilidade e entusiasmo próprios do arquétipo do Puer e de rigidez e sabedoria próprios do arquétipo do Senex, considerados os aspectos positivos e negativos de cada um, devem ser empregados com um modelo dinâmico, imprescindíveis ao bom funcionamento do psiquismo como um todo, já que são vivências psicológicas que ocorrem no psiquismo de pessoas específicas em situações específicas.
8- Self – É a chave da teoria psicológica de Jung. O Si – mesmo é transcendente, não é definido pelo domínio psíquico, nem está contido nele, está além dele… Forma a base para que o sujeito exista de comum com o mundo, com as estruturas do Ser. Sujeito e objeto, Ego e o outro, juntam-se num campo comum de estrutura e energia, é mais do que a subjetividade do sujeito, é sua essência, é o centro magnético do universo Junguiano.
E os instrumentos terapêuticos usados na clínica Junguiana – Dinâmica da Psique:
1- Interpretação de sonhos:
O sonho é uma ferramenta da psique que busca o equilíbrio por meio da compensação. Na busca pelo equilíbrio, personagens arquetípicas interagem nos sonhos em um conflito que busca levar ao consciente, conteúdos do inconsciente. Jung aponta os sonhos como forças naturais que auxiliam o ser humano no processo de individuação. Uma forma própria do inconsciente de se expressar. Para o mestre suíço, há os sonhos comuns e os arquetípicos, revestidos de grande poder revelador para quem sonha. Os sonhos seriam uma demonstração da realidade do inconsciente.
2- Imaginação ativa:
Esta técnica consiste em quatro fases: libertar-se do fluxo de pensamento do ego; deixar que uma imagem de fantasia do inconsciente flua para o campo da percepção interior; conferir uma forma à imagem relatando-a por escrito, pintando-a, esculpindo-a, escrevendo-a como uma música ou dançando-a; confrontar-se
moralmente com o material produzido/imaginado (FRANZ, 1999).
Durante a “imaginação ativa” não existe uma meta que obrigatoriamente tenha que ser atingida, nenhum modelo, imagem ou texto a ser usado. A pessoa simplesmente começa com o que vem de dentro dela, com uma situação de sonho relativamente inconclusiva ou uma momentânea modificação do estado de espírito. Se surge um obstáculo, a pessoa que medita é livre para considerá-lo ou não como tal; é ela que resolve como deve ou não reagir diante dele (FRANZ, 1999, p. 179).
3- Caixa de areia (Sand play):
É um método terapêutico desenvolvido por Dora M. Kalff. Caracterizado pelo uso da areia, água e miniaturas na criação de imagens dentro de uma caixa de areia.
É um método projetivo que prescinde do verbal. Sua prática consiste em construir cenários em uma caixa de areia, seca ou úmida, da forma que desejar, moldando a areia ou utilizando miniaturas. As cenas simbolizam o estado psíquico. É um contínuo diálogo entre aspectos conscientes e inconscientes da psique do cliente, que ativa o processo de cura e o desenvolvimento da personalidade.
Durante o processo psicoterapêutico com o Sandplay – Jogo de areia, observamos que as partes desconhecidas e não aceitas do indivíduo são vistas objetivamente e reconhecidas como pertencendo a ele.
A caixa e o setting terapêutico tornam-se a área limítrofe onde os opostos podem se confrontar e onde os conflitos podem ser resolvidos antes de serem levados para o mundo real. O trabalho na caixa de areia pode permitir a expressão de conteúdos inconscientes, de modo a que eles não mais busquem se manifestar de forma literal em nossas vidas.
4- Contos de fada:
Facilita ao cliente encontrar sua própria solução através da contemplação do que a estória parece implicar sobre seus conflitos internos naquele momento de sua vida. Os contos são sugestivos, pois suas mensagens implicam em soluções, mas estas não são ostensivas. Há espaço para a fantasia e interferência que cada um tira para si daquilo que a história relata sobre a natureza humana.
E Jung diz que uma maneira rica e produtiva de direcionar esta energia, de dar uma expressão simbólica ao inconsciente, é sublimar através da ARTE,
utilizando-se de materiais plásticos, cênicos, da música, da literatura, da filosofia, de descobertas científicas, etc. (JUNG, 1964).
Se focalizarmos nossa atenção sobre o inconsciente, sem suposições precipitadas ou rejeições emocionais, há de surgir um fluxo de imagens simbólicas de maior proveito – que é nosso Inconsciente Criativo.
Inúmeros são os caminhos e as possibilidades de que nós, arteterapeutas, dispomos para fazer com que os conteúdos do inconsciente venham para a consciência de maneira mais saudável, rica e eficaz. A Arteterapia trabalha proporcionando um clima criativo acolhedor, no setting terapêutico, para que o cliente sinta-se bem, para que possa fazer contato com suas imagens do inconsciente e para que estas imagens venham para a consciência, facilitando assim uma maior compreensão do seu momento de vida.
Isto se dá:
1o – Primeiramente, através de atividades multi-mentais como relaxamento, massagem, imaginação ativa, música, cheiro, podemos propiciar um terreno fértil para captar os símbolos, o sensório, a afetividade.
2o – Num segundo momento, proporcionamos materiais como pintura, desenho, argila ou atividades expressivas como teatro, expressão corporal, etc. para fazer a transposição das imagens, configurando e estruturando, dando forma.
3o – E por último, entramos com a linguagem verbal para entendimento e decodificação destas imagens, ao mesmo tempo em que o intelecto ajuda a estruturar as emoções.
Segundo Alessandrini, isto acontece no processo da Oficina Criativa, que é um trabalho composto de várias etapas, no qual o sujeito expressa criativamente um imagem interna por meio de uma experiência artística para, posteriormente, organizar o conhecimento intrínseco a esse fazer expressivo.
Podemos pensar a Oficina Criativa como ponto clímax dos processos integrados.
Etapas da Oficina Criativa:
1o – SENSIBILIZAÇÃO: O sujeito estabelece uma relação diferenciada de contato com o mundo. Ele é convidado a “tocar si mesmo”, o seu mundo INTRA, colocando-se disponível para o emergir de sua imagem interna. As atividades desenvolvidas nesse momento visam a vinculação do sujeito com a situação, que podem ser feitas através de exercícios lúdicos, atividades corporais, observação dirigida ou sugerida ou construções do imaginário.
2o – EXPRESSÃO LIVRE: O sujeito expressa a experiência vivida por intermédio de uma linguagem não verbal, possibilitando-lhe a livre expressão de seus sentimentos e pensamentos. O sentimento eclode como imagem e toma forma. Atividades utilizadas: diversas técnicas e materiais artísticos.
3o – ELABORAÇÃO DA EXPRESSÃO: Acontece quando ocorre o aprimoramento da linguagem escolhida pelo sujeito. Ele reelabora, ainda ao nível da arte e da representação não verbal, o conteúdo emergente nas etapas anteriores. Há um retrabalhar as figuras e formas, dando-lhes mais contornos, linhas e cores. Uma distância reflexiva começa a ser trazida à consciência e o sujeito começa a elaborar.
4o – TRANSPOSIÇÃO DA LINGUAGEM: Propomos a transposição para a linguagem verbal, na perspectiva de re-significar o processo, a imagem interna sugere a criação de mensagens e textos. É o momento que se pode trabalhar de modo mais diretivo e estruturado. Aperfeiçoamento da linguagem oral e escrita, associados aos processos de raciocínio e operacionalização.
5o – AVALIAÇÃO: A retomada do processo permite a conscientização e percepção crítica do indivíduo na aquisição de novos conhecimentos. Olhar e poder rever cada etapa, reelaborando conteúdos não explicitados, ou avaliando a dimensão de significados simbólicos da totalidade da experiência vivida. A distância reflexiva se completa, a gestalt se faz, oferecendo ao sujeito a oportunidade de crescer dentro de um caminhar próprio e autêntico, no qual o arriscar-se e romper o próprio limite pode ser vivido enquanto unidade em algo que chamaríamos de SER, SENTIR, CRIAR, EXPRESSAR, FAZER, REFLETIR, CRESCER.
Ou seja, essa avaliação envolve o conjunto de informações que permitem identificar os processos que foram significativos.
“Os pacientes que tenham talento para a pintura ou o desenho podem expressar seus afetos por meio de imagens. Importa menos uma descrição tecnicamente ou esteticamente satisfatória, do que deixar campo livre à fantasia, e que tudo se faça do melhor modo possível”. (JUNG, 1991, V.8/2: § 168).
Da Fantasia e da Imagem:
Agora entraremos num campo interessante onde Jung nos faz pensar quando traça uma diferença entre imagem e fantasia. Ele fala que, quando esta imagem ainda está no inconsciente, ela é chamada de fantasia e, quando ela vem para a consciênci
Prof. Prado opina: A pessoa tem que ser artista, fazer obras acabadas e ricas, inspirando-se nas obras dos grandes mestres pintores, poetas. Passar da expressão espontânea para a elaboração artística, literalmente.
Essa imagem baseia-se, antes, na atividade inconsciente da fantasia, cujo produto se impõe mais ou menos bruscamente à consciência, como uma espécie de visão ou alucinação, mas sem o caráter patológico destas, quer dizer, sem que possa figurar num quadro clínico-patológico. A imagem tem o caráter psicológico de uma representação da fantasia e nunca o caráter quase real de alucinação, quer dizer, jamais suplanta a realidade e difere sempre da realidade sensorial como imagem “interior” que é.
A imagem constitui uma expressão concentrada da situação psíquica total, não apenas conteúdos inconscientes ou predominantemente destes. É, sem dúvida, uma expressão de conteúdos inconscientes, mas não de todos, em geral, e apenas daqueles que, no momento, tenham alguma utilidade. Essa utilidade de uma constelação momentânea decorre, por uma parte, da própria atividade do inconsciente e, por outra parte, da situação consciente do momento que, ao mesmo tempo, estimula sempre a atividade dos correspondentes materiais subliminares, obstruindo aqueles que não convêm. Em semelhante contexto, a imagem será a expressão da situação momentânea, tanto consciente como inconsciente. (JUNG, 1967, V.6: 513 514).
Jung entende a fantasia como: “uma fluência da atividade criadora do espírito, uma atividade ou produto de combinação de elementos psíquicos carregados de energia”. (JUNG, 1967).
Dr. David de Prado em seu “Manual de Ativadores Criativos – 18 ativadores da criatividade integral”, 2004, refere-se à ativação sistemática da fantasia e da imagem através de cinco ativadores em especial, que podemos correlacionar com o que Jung já dizia sobre fantasia:
1- JOGO LINGUÍSTICO – JL – tem como objetivo pensar e expressar seus múltiplos significados, e assim compor novas palavras, frases e, até mesmo, novos textos. É uma técnica que usamos para jogar, brincar com as palavras, buscando uma maior flexibilidade mental e, assim, criar novos sentidos e significados para uma
palavra já conhecida e estigmatizada pela sociedade. Temos como base sua raiz, seu radical e, a partir daí, construímos uma rede de palavras novas, um vocabulário de palavras afins.
2- DESÁGUE DE FRASES – DF – tem como objetivo acelerar o processo mental, facilitando na fluência do pensar e expressar.
É uma técnica de decomposição de todo o significado de uma frase e composição arbitrária de novas frases com distintos destinos.
Ela serve para montar novas frases, slogans, provérbios, textos, etc. Ajuda a captar novos valores e significados, formar novas estruturas, buscando a flexibilidade linguística e desenvolvimento da criatividade.
O sujeito lê o texto, seleciona palavras e expressões que são a chave para compreensão do mesmo. Depois, busca novas expressões afins ou contrárias, para substituí-las. Em seguida, reescreve a frase, mantendo a mesma estrutura lógica e expressiva da original.
3- ANALOGIA INUSUAL (NÃO USUAL) – AI – que tem como objetivo fazer com que a pessoa veja a realidade interconectada, criando uma curiosidade permanente que a ajuda a compreendê-la, criticá-la e sintetizá-la de maneira mais diversa e completa, transformando o que é familiar e simples. É uma técnica para estabelecer uma comparação entre dois fenômenos ou objetos distintos que aparentemente são diferentes. Ela busca estabelecer uma associação lógica entre ambos, produzindo conexões inconscientes de uma nova realidade sonhada ou fantasiada. O sujeito elege dois objetos ou fenômenos diferentes. Faz um turbilhão de idéias de cada um deles, depois tenta descobrir suas semelhanças. Estrutura as respostas em categorias. Faz um desenho, superpondo ambos os elementos da analogia e formando um novo elemento. Dá um nome ou título e inventa uma história. Da fantasia livre à imaginação reconstrutiva.
4- METAMORFOSE TOTAL DO OBJETO – MTO – tem como objetivo desenvolver uma dinâmica de pensamento mais ágil, flexível e transformadora frente ao pensamento tradicional, da realidade objetiva, e sendo assim, forma-se uma personalidade mais aberta, mantendo sua fantasia mais viva.
É uma técnica que nos permite fantasiar, transformar, trocar a dinâmica, o funcionamento, o uso, o tamanho, a cor, a forma, etc. de qualquer objeto.
O sujeito faz primeiramente uma mudança física, transformando seu exterior, sua cor, sua forma e sua constituição. Depois faz uma mudança funcional, dando a ele
novas funções e usando-o de modo distinto. Em seguida, faz uma mudança de fabricação, seu modo de criar, desde o seu nascimento até a morte. Posteriormente, faz uma mudança relacional, isto é, se relaciona de modo novo e criativo. E, por último, uma mudança afetiva psicolinguística, como ele sente o novo objeto, quais problemas que existem e como é sua comunicação.
5- RELAX IMAGINATIVO – RI – tem como objetivo fazer com que a pessoa entre em contato com seus conteúdos do inconsciente, para que ela se sensibilize emotiva e corporalmente, assim, ela se sentirá mais integrada consigo mesma, desenvolvendo sua autoestima. É uma técnica de relaxamento imaginativa que, através da indução, acessamos o hemisfério direito do cérebro, levando à concentração visual interna e à imaginação lúdica. Somos acostumados, no nosso dia a dia, a usar mais nosso lado racional, o lado do hemisfério esquerdo do cérebro.
O sujeito deve estar num espaço confortável e com uma boa acomodação, tanto ambiental como física, um espaço na penumbra, livre de todas as preocupações. Depois, é feito algum tipo de relaxamento direto, com respirações, para entrar em contato com cada parte do corpo, como pular, dançar, etc.. Em seguida, acomoda-se novamente para ser induzido a uma viagem fantástica. O terapeuta vai orientando esta viagem e o cliente, de olhos fechados, vai imaginando. Finalmente, ele volta ao seu estado normal e à realidade, descrevendo o que aconteceu em palavras ou imagens.
A fantasia pode estar contida, por um lado, num sentido latente, que é sempre algo do devir, e por outro lado, seu sentido manifesto, um processo de criação.
Para uma explicação finalista, é a fantasia de um símbolo que, recorrendo aos materiais de que dispõe, pretende caracterizar e apreender um determinado fim ou, melhor ainda, uma futura diretriz psicológica, uma determinada linha evolutiva no futuro. Sendo a fantasia ativa a característica principal da atividade artística, temos de considerar o artista não só como expositor, mas também como criador e, portanto, como educador, pois suas obras tem o valor de símbolos que prescrevem futuras linhas de evolução. A maior ou menor universalidade, a maior ou menor limitação, da validade social dos símbolos, depende da mais ou menos limitada, mais ou menos universal, aptidão vital da individualidade criadora. (JUNG, 1967, V.6: 504).
Nas etapas do processo arteterapêutico, a fantasia aparece no primeiro momento do trabalho, e a imagem, no segundo. Sendo assim, a fantasia está no campo do inconsciente e a imagem no campo da consciência.
A imaginação é, simplesmente, a atividade reprodutora ou criadora do espírito, sem constituir uma faculdade especial, pois a sua observação é possível em todas as formas básicas de acontecimento psíquico: no pensar, sentir, perceber e intuir. A fantasia, como atividade imaginativa, é a expressão direta, em meu entender, da atividade psíquica vital, da energia psíquica que só é dada à consciência na forma de imagens ou conteúdos, do mesmo modo que a energia física só aparece na forma de um estado físico que, por via física, estimula os órgãos sensoriais. Assim como todo estado físico, energeticamente considerado, não é senão um sistema de forças, o conteúdo psíquico, se o considerarmos energeticamente, também não passa de um sistema de forças que faz sua aparição na consciência. Segundo este prisma, pode-se afirmar, portanto, que a fantasia caracterizada como fantasma é, na realidade, a soma de libido que só poderá aparecer na consciência sob a forma de imagem. O fantasma é ”ideé-force”. O fantasiar, como atividade imaginativa, equivale ao decorrer do processo energético da psique. (JUNG, 1967, V.6: 505).
Jung, referindo-se aos conteúdos inconscientes afirma que:
Há pessoas, porém, que nada vêem ou escutam dentro de si, mas suas mãos são capazes de dar expressão concreta aos conteúdos inconscientes. Esses pacientes podem utilizar-se vantajosamente de materiais plásticos. Aqueles, porém, que são capazes de expressar seu consciente através de movimentos do corpo, como a dança são bastante raros. Deve-se paliar o inconveniente de não se poder fixar mentalmente os movimentos, desenhando-os cuidadosamente, em seguida, para que não se apaguem da memória. (JUNG, 1991, V.8/2:§ 171).
A Arte dá a oportunidade para que as imagens do inconsciente encontrem suas formas de expressão. O que interessa para a Arteterapia, como também para Jung é a penetração no mundo interno do homem, o confronto com as imagens que a energia psíquica aí configura e a decifração das formas simbólicas. O Homem elabora seu potencial criador.
Nise da Silveira em um de seus textos escreve: “Pintar seria agir. Seria um método de ação adequado para defesa contra a inundação dos conteúdos do inconsciente”. (SILVEIRA, 1981:13).
Eu penso que esse espaço interno onde o indivíduo se debate, por mais inconsciente que possa parecer, é um prodigioso cosmos cheio de potencialidades para o enriquecimento e aprofundamento de sua existência emocional. (SILVEIRA, 1981:111).
A Arte proporciona este ir e vir – a dança fluídica destes conteúdos conscientes e inconscientes – e possibilita inúmeras representações e elaborações, nos tornando autores, artistas e protagonistas responsáveis pela nossa própria história.