1 – Introdução
O resgate da criança interior e a transformação de comportamentos, observados em um participante que apresenta Doença de Parkinson, em um grupo de Arteterapia, foi motivo da realização desse trabalho de pesquisa.
O objetivo é fornecer um referencial básico sobre as vantagens da utilização de recursos arteterapêuticos com aqueles que apresentam Doença de Parkinson, tais como desenho, colagem e música, dentre outros, através da exposição de dados sobre as sessões realizadas.
Durante o período de setembro de 2013 a maio de 2014, foi realizado estágio do Curso de Formação em Arteterapia, no Instituto Re6 (Reconstruir – Reeducar – Reaproveitar – Redescobrir – Reciclar – Reduzir), na Rua Lafayette Silva, número 49, Freguesia de Jacarepaguá, Rio de Janeiro.
Este trabalho atendeu indivíduos na faixa etária entre 75 e 84 anos, totalizando 100 horas, com 40 sessões de 1h30m, semanalmente.
O desenvolvimento deste trabalho se deu com a pesquisa de todos os dados de relatórios das sessões, do exame das obras expressivas do estudado, de consultas bibliográficas e do relatório fornecido pela médica neurologista que o acompanha.
Três meses após o término das sessões, foram feitas entrevistas com sua esposa e com a integradora do grupo do Instituto Re6.
O participante deste Estudo de Caso será aqui chamado de Sr. Winner, 76 anos, aposentado há cinco anos.
2 – Desenvolvimento
Doença de Parkinson:
De acordo com a Academia Brasileira de Neurologia, a Doença de Parkinson é uma doença degenerativa do sistema nervoso central, crônica e progressiva. É causada por uma diminuição intensa da produção de dopamina, que é um neurotransmissor (substância química que ajuda na transmissão de mensagens entre as células nervosas). A dopamina ajuda na realização dos movimentos voluntários do corpo de forma automática, ou seja, não precisamos pensar em cada movimento que nossos músculos realizam, graças à presença dessa substância em nossos cérebros. Na falta dela, particularmente em uma pequena região encefálica chamada substância negra, o controle motor do indivíduo é perdido, ocasionando sinais e sintomas característicos.
Com o envelhecimento, todos os indivíduos saudáveis apresentam morte progressiva das células nervosas que produzem dopamina. Algumas pessoas, entretanto, perdem essas células (e consequentemente diminuem muito mais seus níveis de dopamina) num ritmo muito acelerado e, assim, acabam por manifestar os sintomas da doença. Não se sabe exatamente quais os motivos que levam a essa perda progressiva e exagerada de células nervosas (degeneração), muito embora o empenho de estudiosos deste assunto seja muito grande.
Admitimos que mais de um fator deve estar envolvido no desencadeamento da doença. Esses fatores podem ser genéticos ou ambientais. O quadro clínico basicamente é composto de quatro sinais principais: tremores; acinesia ou bradicinesia (lentidão e diminuição dos movimentos voluntários); rigidez (enrijecimento dos músculos, principalmente no nível das articulações); instabilidade postural (dificuldades relacionadas ao equilíbrio, com quedas freqüentes). Para o diagnóstico não é necessário entretanto que todos os elementos estejam presentes, bastando dois dos três primeiros itens citados.
A Doença de Parkinson costuma instalar-se de forma lenta e progressiva, em geral em torno dos 60 anos de idade, embora 10% dos casos ocorram antes dos 40 anos (parkinsonismo de início precoce) e até em menores de 21 anos (parkinsonismo juvenil). Ela afeta ambos os sexos e todas as raças.
Os sintomas aparecem inicialmente só de um lado do corpo e o paciente normalmente se queixa que “um lado não consegue acompanhar o outro”. O tremor é caracteristicamente presente durante o repouso, melhorando quando o paciente move o membro afetado. Não está, entretanto, presente em todos os pacientes com Doença de Parkinson, assim como nem todos os indivíduos que apresentam tremor são portadores de tal enfermidade. O paciente percebe que os movimentos com o membro afetado estão mais difíceis, mais vagarosos, atrapalhando nas tarefas habituais, como escrever (a letra torna-se pequena), manusear talheres, abotoar roupas. Sente também o lado afetado mais pesado e mais enrijecido.
Esses sintomas pioram de intensidade, afetando inicialmente outro membro do mesmo lado e, após alguns anos, atingem o outro lado do corpo. O paciente também pode apresentar sintomas de dificuldade para andar (anda com passos pequenos) e alterações da fala.
A Doença de Parkinson é tratável e geralmente seus sinais e sintomas respondem de forma satisfatória às medicações existentes. Esses medicamentos, entretanto, são sintomáticos, ou seja, eles repõem parcialmente a dopamina que está faltando e, desse modo, melhoram os sintomas da doença. Devem, portanto, ser usados por toda a vida da pessoa que apresenta tal enfermidade, ou até que surjam tratamentos mais eficazes. Ainda não existem drogas disponíveis comercialmente que possam curar ou evitar de forma efetiva a progressão da degeneração de células nervosas que causam a doença.
Há diversos tipos de medicamentos antiparkinsonianos disponíveis, que devem ser usados em combinações adequadas para cada paciente e fase de evolução da doença, garantindo, assim, melhor qualidade de vida e independência ao enfermo. Também existem técnicas cirúrgicas para atenuar alguns dos sintomas da Doença de Parkinson, que devem ser indicadas caso a caso, quando os medicamentos falharem em controlar tais sintomas. Tratamento adjuvante com fisioterapia e fonoaudiologia é muito recomendado.
O objetivo do tratamento, incluindo medicamentos, fisioterapia, fonoaudiologia, suporte psicológico e nutricional, é reduzir o prejuízo funcional decorrente da doença, permitindo que o paciente tenha uma vida independente, com qualidade, por muitos anos. (ABNEURO, 2014)
Arteterapia
Visando atingir o objetivo do tratamento, no que diz respeito ao suporte psicológico, a Arteterapia como processo terapêutico pode trazer o benefício de uma vida mais independente e com qualidade, através da utilização das modalidades expressivas como a música, a dança, o teatro e as representações plásticas (colagem, desenho, pintura, modelagem, escultura etc.).
A Arteterapia é útil para crianças, adolescentes, adultos e idosos.
“Uma, dentre as inúmeras formas de descrever o que é mesmo Arteterapia, será considerá-la como um processo terapêutico, que ocorre por meio da utilização de modalidades expressivas diversas. As atividades artísticas utilizadas, configurarão uma produção simbólica, concretizada, em inúmeras possibilidades plásticas, diversas formas, cores, volumes etc. Esta materialidade permite o confronto e gradualmente a atribuição de significado às informações provenientes de níveis muito profundos da psique, que pouco a pouco serão apreendidas pela consciência.” (PHILIPPINI, P. 11, 2013)
Características do Sr. Winner quando chegou:
Quando chegou no seu primeiro dia, o Sr. Winner parecia totalmente dependente para agir. Havia informação sobre seu diagnóstico de Parkinson. No segundo dia veio acompanhado da mulher e a dependência ficou mais clara. Quase não falava nem sorria. Apresentava pequeno distúrbio na orientação espacial e era percebido esquecimento e alteração da atenção.
Observação das Sessões:
Durante as primeiras sessões, em uma delas para confecção do crachá, que tem como objetivo criar um ambiente acolhedor para que as pessoas se conheçam um pouco e se sintam mais à vontade para trabalharem juntas, foi observado que o Sr. Winner fez todos os movimentos corporais sugeridos, envolvendo braços, mãos, pernas, face, demonstrando equilíbrio progressivo ao som musical. Isso foi no início da sessão, antes da atividade com papel, giz de cera e caneta hidrocor.
No fechamento da sessão exclamou: “É bom lembrar de ser criança, nem que seja por apenas um minuto!”
“Os materiais gráficos fazem parte do universo da criança desde a mais tenra idade, acompanhando o homem no seu percurso escolar e artístico. Seu formato dá segurança permitindo maior firmeza do traço, o que é muito bom para quem tem dificuldade com a coordenação motora fina.” (CARRANO e REQUIÃO, P. 79, 2013)
Percebe-se muitas vezes, que a música muda o estado momentâneo das pessoas.
“A música pode afastar nossas tristezas. Evoca lembranças de amantes perdidos ou amigos falecidos. Permite que a criança dentro de nós brinque, que o monge em nós reze, que o jovem dentro de nós dance, que o herói em nós supere todos os obstáculos. Ela ajuda a vítima de um derrame a encontrar uma linguagem de uma expressão.” (CAMPBELL, P. 11, 2000)
A sessão seguinte era pintura, com o objetivo de observar o limite e o controle através da imagem pintada, revelada no recorte do papelão sobre o papel. A explicação foi de que recortou um boneco, mas saiu um travesseiro na pintura, o que lhe lembrara o tempo de criança. Acrescentou: “Apanhei muito.”
Na sessão de colagem, intitulada “Minha Árvore, Meu Corpo”, com o objetivo de fortalecer a percepção corporal e a autoimagem, o Sr. Winner falou de sua árvore, mostrada na figura 1, como sendo de galhos secos, com ninhos de pássaros, raiz seca. Queria dar um nó nas folhas, que se tornariam raízes, o que não estava conseguindo por problema em um dedo. Foi auxiliado por uma colega do grupo.
Fig. 1
Sobre o nó nas folhas:
“No Marrocos, é frequente encontrar junto às mesquitas dos marabus nós feitos nas árvores circundantes. Essa prática está de acordo com o traslado ou aporte das pedras, e pode ter a mesma significação: a transferência de um mal. Para se desembaraçar de doenças, suspendem-se nas árvores trapos velhos, cabelos com nós.” (CHEVALIER e GHEERBRANT, P. 638, 2012)
Ao final da sessão, falou que quando chegou, pensou em voltar, pois sua mulher não estava com ele, para falar por ele. E que então lembrou da professora tão calma, tão atenciosa, e permaneceu na sala. Indagado se sua esposa havia lhe feito falta naquela sessão, respondeu: ”Nenhuma.”
Na sessão de escultura na fruta, que tinha o objetivo de observar o que cada um deseja deixar cravado em sua vida, ao lidar com os sentidos em contato com uma fruta, disse que se sentiu muito bem. Descascou uma maçã de modo eficiente, comeu, descascou outra da mesma forma e disse que os dois polos da maçã representavam a natureza, o começo e o fim, conforme a figura 2. Repetiu, mostrando: “O nascimento e o fim.”
Fig. 2
Na sessão “Desenho da Família”, cujo objetivo é observar o funcionamento da dinâmica familiar, como cada um percebe a família e como se percebe dentro dela, o Sr. Winner falou de um João Ninguém, mostrado na figura 3, do sargentão, que segundo ele não estava no desenho, e de um robô. Netos não foram desenhados, apenas palavras escritas. Observando-se o desenho da família, elaborado por sua esposa, na figura 4, aqui chamada Sra. Winner, verifica-se e ela mesma informa que ele é aquele desenho feito pequeno. Está atrás dos outros familiares. A Sra. Winner fala do desenho que fez de si mesma, como sendo aquela de vestido longo, amplo, com babados e brilhos, pois adora chamar atenção. Disse: “Eu sou princesa. Adoro chegar e todo mundo bater palmas.”
Sobre o tamanho nos desenhos:
“A proporção dos objetos e das pessoas em um desenho é importante. Se as coisas estão desproporcionais, devemos tentar descobrir o que as figuras de tamanho excessivo enfatizam e o que as figuras de tamanho reduzido parecem estar desvalorizando.” (FURTH, P. 98, 2004)
Sobre as palavras nos desenhos:
“As palavras utilizadas nos desenhos requerem uma atenção especial. O paciente que fez o desenho teme não ter transmitido de maneira clara a mensagem ou o argumento do desenho, e as palavras ajudam a dar uma definição mais clara do que ele quer dizer, reduzindo as chances de que o desenho seja mal interpretado.” (FURTH, P. 129, 2004)
Fig. 3
Fig. 4
Na sessão de modelagem, para observar como cada um, através do contato com a argila, lida com suas emoções e que conteúdos psíquicos emergem desse contato, o Sr. Winner disse ter sensação boa com a argila, como se não tivesse fim. E que modelou um monstro com boca, olhos e nariz, porque gosta de ver filme de monstro.
Continuando:
“O monstro simboliza o guardião de um tesouro, como o tesouro da imortalidade, por exemplo, isto é, o conjunto das dificuldades a serem vencidas, os obstáculos a serem superados, para se ter acesso, afinal, a esse tesouro material, biológico ou espiritual. O monstro está presente para provocar ao esforço, à dominação do medo, ao heroísmo.” (CHEVALIER e GHEERBRANT, P.614, 2012)
Na sessão de desenho, para observar a abordagem dos participantes sobre seus elos comuns, contribuições positivas e conteúdos psíquicos que emergem da solidariedade, o Sr. Winner disse sorrindo que sentiu sono e que o grupo estava diferente, bem melhor, mais calmo e centrado. No desenho, representou parte de seu trabalho em esquadrias de alumínio, o qual parou há cinco anos.
Na sessão de desenho, sob o título “Seguindo em Frente”, para observar que emoções cada participante experimenta quando quer consertar ou “voltar atrás” em algum traço do desenho, o Sr. Winner falou que gosta de porquinho. E que tinha uma manada quando era criança, mas desenhou um carro.
Sobre o carro:
“Outro dos símbolos do carro, que é hindu e platônico ao mesmo tempo, é o do ego: o carro só existe em função do conjunto das peças que o formam; por isso, quando essas peças são consideradas separadamente, o carro deixa de existir; o carro, portanto, assim como o ego, é apenas uma designação convencional.” (CHEVALIER e GHEERBRANT, P.192, 2012)
A segunda fase do processo, chamada Amplificação, teve início a partir da sessão de número 19. Nessa fase, explica-se o motivo da escolha do tema a partir do qual as oficinas (sessões anteriores) serão trabalhadas, com o intuito de acompanhar o desenvolvimento do grupo. A seleção de um conto ou filme é feita de acordo com a característica central do grupo, e vai trabalhar seus conteúdos internos visando mudanças para uma melhor integração destes. A Amplificação tem o objetivo de trabalhar as dificuldades apresentadas de diversas maneiras.
Foi escolhido o filme “O Rei Leão”, com o objetivo de facilitar a integração de conteúdos internos, associados à baixa autoestima e sentimento de culpa, muitas vezes verificados no grupo.
No filme “O Rei Leão” da Disney, o Sr. Winner identificou-se com o porco.
Segundo a Sra. Winner, seu marido adora comer, e se percebia a alegria dele na hora dos lanches com o grupo.
Sobre o porco:
“Quase que universalmente, o porco simboliza a comilança, a voracidade; ele devora e engole tudo o que se apresenta. Em muitos mitos, é esse papel de sorvedouro que lhe é atribuído. O porco é geralmente o símbolo das tendências obscuras, sob todas as suas formas, da ignorância, da gula, da luxúria e do egoísmo.” (CHEVALIER e GHEERBRANT, P. 734, 2012)
Foi escolhido trabalhar para confeccionar uma colcha de retalhos, em que cada um construiria sua obra e todos depois as uniriam para formar um todo, com base no filme.
Sobre as atividades de linha e agulha, segundo Philippini (2009, p. 64), “Ensinam sobre a necessidade de cuidado, gradualidade, minúcia, atenção e concentração.”
No primeiro dia de trabalho sobre o filme, utilizaram-se agulhas, linhas e tecidos, enquanto o Sr. Winner se interessava em fazer desenho.
Sobre o desenho e a cura pela arte:
“Um símbolo do inconsciente sempre age ou de maneira compensatória ou complementar em relação ao estado consciente da psique em um dado momento da vida. Se a atitude consciente é unilateral, muito ligada a um aspecto da vida, de forma a excluir um outro, então essa energia compensatória emerge como um símbolo do inconsciente. Um símbolo compensatório expressa a área negligenciada, tanto por meio de um sonho ou fantasia quanto de um desenho, na tentativa de trazê-la à atenção da consciência e promover uma mudança na atitude consciente. A área negligenciada sempre exige atenção de alguma forma. Desse modo, o símbolo possui uma influência curadora, esforçando-se por alcançar um equilíbrio e uma totalidade.” (FURTH, P. 41, 2004)
No segundo dia, começou desenhando em tecido e depois, com agulhas e linhas começou sua produção, mostrada nas figuras 5 e 6. Precisou de ajuda para enfiar linha na agulha e também para iniciar a costura.
Fig. 5 Fig. 6
Para lembrar do que se tratava o filme, precisou de ajuda inicial e logo lembrou-se de vários trechos da obra, na sequência e com detalhes. E falou: “Continuar esses trabalhos em casa é bom; a gente se sente bem.”
Ao final das 40 sessões, houve o Encerramento, fase que implica na integração dos conteúdos trabalhados durante a Amplificação, avaliando o processo de transformação de cada um.
Nesse momento, disse o Sr. Winner: “Isso aqui foi um prêmio! Mudou muita coisa, porque não tinha esse conhecimento. Mudou minha vida completamente. Mudou o meu casamento, graças a Deus! Nunca desenhei bicicleta, carro, casa. Levo tudo que aprendi de coisas boas.”
Características de mudança do Sr. Winner:
Lentamente, pela postura acolhedora do grupo e pelas técnicas utilizadas, começou a se expressar e se soltar. A segurança foi chegando, principalmente quando a música foi introduzida no aquecimento de algumas sessões e ele dançava. Chegou a liderar o grupo, fazendo exercícios corporais, que antes não fazia nem nas aulas de Educação Física, onde sempre era acompanhado ou amparado por outra pessoa. Fora seguido várias vezes pelo grupo, nos seus movimentos alegres com a música. Essa liderança, com seguidores, foi fortalecendo a nova atitude do “eu posso”. A Sra. Winner foi freando seus impulsos de intromissão nos trabalhos do marido. O bom humor apareceu e passou a ser essencial para o grupo. Foi observado um homem mais seguro, que chegava sozinho para as sessões quando a mulher faltava. Ganhou autoconfiança e entendeu que não precisava ser perfeito no que fazia, nem precisava atender exigências de ninguém.
Acolhimento, técnicas apropriadas, e controle de grupo, foram aspectos essenciais para a transformação do Sr. Winner, que gostou muito de desenhar. Nas oficinas criativas propostas, ele participava e se alegrava ao dizer que nunca desenhara quando criança. E também falava sobre como era bom desenhar. Era enfático e esse comentário apareceu várias vezes, independente da obra produzida por ele.
Durante o período em que foram realizadas as sessões, passou a desenhar em casa.
Segundo a esposa, no momento atual, após três meses do término do processo de Arteterapia, ele continua desenhando quase todos os dias, pela manhã ou à tarde, utilizando os seus preferidos lápis de cera. Nos dias em que não desenha, pega todas as suas obras e fica olhando, durante longo tempo. Nunca mais perdeu o contato com essa arte. Sente saudade dos encontros de Arteterapia e menciona como os encontros eram alegres.
Segundo a integradora do Instituto, seu desempenho nas outras atividades, tais como Educação Física e interação com outras pessoas, está transformado. Está falante e brincalhão, sempre bem-humorado.
É percebida a associação de três aspectos principais, tais como o gosto pelo desenho, o sentir falta da alegria e o fato de não ter desenhado quando criança, o que foi resgatado através dos trabalhos nas sessões.
O resgate da criança interior observado nesse trabalho, aconteceu com integração e transformação.
“Ao descrever a Psicologia do arquétipo da criança – Puer, Jung se refere às condições infantis que foram esquecidas ou abandonadas, quer por recalque, quer por outros meios, tanto da infância individual quanto da infância da humanidade. A criança nos faz lembrar que estamos deixando de lado conteúdos importantes para o funcionamento psíquico como um todo.”(BITTENCOURT, P.34, 2014)
3 – Conclusão:
Os resultados podem ser considerados de sucesso, se comparados aos objetivos deste relato, que era a Arteterapia fazer parte do suporte psicológico para uma vida mais independente e com qualidade. Houve aumento da autoestima, autoconfiança e sociabilidade, baixa da ansiedade por não se sentir obrigado a cumprir padrões estabelecidos por outros, bem como a sensação de uma independência há muito não experimentada. Está sempre pronto e animado para viagens e passeios, inclusive passeios a pé, sozinho nas redondezas.
Por fim, fica a certeza de que a arte é uma ferramenta rica, prazerosa, colorida e harmoniosa para os processos de construção e busca de autoconhecimento.
Referências
BITTENCOURT, Danielle. Diagnóstico Intervencionista em Arteterapia: Dinâmicas psicoartísticas e criatividade expressiva. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2014.
CAMPBELL, Don. O Efeito Mozart: Explorando o poder da música para curar o corpo, fortalecer a mente e liberar a criatividade. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2000.
CARRANO, Eveline & REQUIÃO, Maria Helena. Materiais de Arte: Sua Linguagem Subjetiva para o Trabalho Terapêutico e Pedagógico. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2013.
CHEVALIER, Jean & GHEERBRANT, Alain. Dicionário de Símbolos: Mitos, sonhos, costumes, gestos, formas, figuras, cores, números. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 2012.
FURTH, Gregg M. O Mundo Secreto dos Desenhos: uma abordagem Junguiana da cura pela arte. São Paulo: Paulus, 2004.
PHILIPPINI, Angela. Para entender Arteterapia: Cartografias da Coragem. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2013.
PHILIPPINI, Angela. Linguagens e Materiais Expressivos em Arteterapia: Uso, Indicações e Propriedades. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2009.
Site Consultado: ABNEURO. Doença de Parkinson.http://www.cadastro.abneuro.org/site/default.asp. Acesso em: 16/09/2014.