ArteTerapia e a questão simbólica

Somos Natureza, fazemos parte do Cosmos, mas temos um diferencial que é a capacidade de reflexão, existem níveis de consciência em vários outros animais, mas temos um sistema nervoso mais complexo no processo evolutivo, talvez por conta disso tenhamos uma questão de consciência muito peculiar que considera as formas simbólicas.

Há 200 mil anos de existência do homo sapiens, há 4 milhões de anos dos hominídeos, há 10 milhões de anos dos gorilas, 200 milhões de anos dos dinossauros. 20 mil anos atrás houve um processo acelerado de agrupamentos, tribos, civilização. Um processo evolutivo de ensaio e erros, não somos melhores, mas temos algo singular, uma capacidade extraordinária de ter a sensação de termos conhecimento sobre as coisas a partir da ciência.

O conhecimento não é algo de Deus que devemos capturar, Nietsche criticava essa posição da civilização ocidental, para ele o conhecimento é questão nossa, passível de ser manipulada e não de Deus. (CLARKE, 1992)

Quando analisamos o conhecimento que temos, verificamos que não basta tê-lo, é preciso analisar as questões que atravessam a produção deste, e como se chegou a ele.

O pensamento Cristão diz que existe um Deus, uma mente divina, conhecimento este que às vezes nos são concedidos. Não existe esse conhecimento e sim a produção deste que deve ser analisada de como é produzido e utilizado. E não há como se abordar tal questão sem considerá-la pela visão simbólica.

Símbolo são paradigmas à um conjunto de elementos que promovem em nós um conhecimento, uma percepção, um sentimento, uma forma de agirmos e nos relacionarmos com o mundo, e este conhecimento que se transforma ao longo dos tempos, a evolução histórica interfere e muito nos paradigmas, conforme entendemos o mundo, a vida, a natureza, nos relacionamos com este.

O berço da ciência está assentado no pensamento grego, 500 anos AC, a filosofia, a medicina, a matemática, a química, a astronomia. Antes disso a relação com a vida era diferente, a relação com a natureza era pautada de outra forma, o homem vivia junto com os deuses, os animais eram tão importantes quanto os humanos, eram reverenciados, o homem se achava irmão desses animais. (CHAUI, 2000)

Antigos paradigmas foram se quebrando pela arrogância humana, houve um esvaziamento da realidade dos mitos antigos. Cada civilização vivendo seus símbolos ligados a sua própria época. Fechamos a porta para viver esses mistérios, podamos os galhos de nossas consciências que nos permitiam perceber essa outra dimensão da existência achando que o conhecimento da dimensão mecânica, da natureza seria suficiente para tocar a vida (existe um processo mecânico na natureza do organismo, de energia dentro das células, as questões mecânicas), a ciência mecanicista reduziu tudo a essa dimensão da matéria, que perde a dimensão extraordinária da espiritualidade. (CHAUI, 2000)

A mente precisa de suporte. O sistema nervoso humano se desenvolve e vai ganhando complexidade até chegar a dimensão extraordinária que ainda está em semente, em potencial, se acharmos que somos apenas dimensão mecânica estamos perdendo a alma e a alma do mundo.

O movimento da dimensão anímica, dos mistérios não é separado da dimensão da máquina, e a consciência percebe. A ciência está abrindo caminho para outro paradigma que pode reconhecer a consciência do mistério.

A civilização ocidental surge e domina o mundo com a sua ciência, rompe com o pensamento mítico, mas o Cristianismo acredita nos mistérios, o eixo mítico simbólico para a civilização ocidental se orientar. (CHAUI, 2000)

O Símbolo possui algo desconhecido, uma dimensão inconsciente que evoca o sujeito a experiência deste. Quando reduzimos o símbolo a apenas um objeto, estamos deixando de ver a dimensão simbólica mais profunda, quando este se perde, temos o SIGNO (um sinal de comunicação de algo reducionista), perdemos a ponte entre a dimensão do consciente e inconsciente, a possibilidade do encontro com a alma, desse mergulho mais profundo, esse religar do seu Eu com o SELF, com o sagrado presente em você, quando a consciência se transforma, se aprofunda, se amplia. (JUNG, 1987)

Danielle Bittencourt

 

REFERÊNCIAS

GRINBERG, Luiz Paulo. Jung: o homem criativo. 2ª. edição, São Paulo: FDT, 2003.

JACOBI, Jolande. Complexo, Arquétipo e Símbolo. 10. ed. São Paulo: Cultrix, 1995.

CHEVALIER, Jean e GHEERBRANT, Alain. Dicionário dos Símbolos. Rio de Janeiro: José Olympio,11a edição, 1997

1 Danielle Bittencourt, Mestre em Criatividade e Inovação-UFP; Pós-Graduada em Psicologia Junguiana-IBMR/RJ; Psicóloga – UVA/RJ; Arteterapeuta-Clínica – Pomar,RJ; Terapeuta Familiar Sistêmica-Núcleo-Pesquisas/RJ; Graduada em Artes Plásticas-UDESC/SC; Coordenadora Geral e Acadêmica da formação profissional em Arteterapia do Centro de Arteterapia Danielle Bittencourt/RJ; Coordenadora da pós graduação em Teoria e Prática Junguiana e Arteterapia, Processos de Criação pela Universidade Veiga de Almeida, 2019.  Autora do livro Diagnóstico Intervencionista em Arteterapia: Dinâmicas psicoartísticas e criatividade expressiva- 1a edição-2014.

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